sexto sentido

sexta-feira, janeiro 16, 2004

Igualdade e Liberdade

Na vida cometemos pequenos erros, grandes erros e erros enormes. Errar é humano, e não vivemos entre deuses.
Errar perante quem, perante o quê? Perante determinadas leis morais, que foram estipuladas por alguns, inculcadas pela Igreja, e que regem a nossa vida ainda neste século XXI.

Não sou uma anarquista, de forma alguma. Acho que temos de ter regras, leis, normas. Temos que saber o que é a democracia, a liberdade o respeito. E a nossa liberdade, passa necessariamente pela liberdade dos outros enquanto seres iguais.
Porém existem determinados actos que, de serem tão íntimos, tão pessoais, não os podemos considerar como sociais. E porém eles estão assinalados na lei, são condenados por ela.

Muito se tem falado do aborto ultimamente. Do direito que uma mulher tem ou não tem de escolher.
Eu penso muito naquelas mulheres que a ele já recorreram. Quantas não sofreram sozinhas, quantas lágrimas não deitaram escondidas, por saberem que não iam ser compreendidas, que iriam ser penalizadas e ainda pior, na nossa sociedade, que iriam ser apontadas, marcadas, assinaladas.
Os motivos que as levaram a fazer tal acto não os saberemos. Mas não acredito que tenha sido apenas por puro egoísmo. Porque a mulher é um ser instintivo. E digo-vos eu que sou mãe, que o instinto maternal é muito superior a todos os outros de índole mais material.
São mulheres que em determinada altura da sua vida optaram por não serem mães, tal como muitas (a grande maioria) optam por o serem. Porque o parceiro não aceitou, porque as condições de vida não lho permitiram, porque, porque…
Cada qual terá as suas razões, e quem somos nós para julgar um acto tão pessoal, que provoca tanto sofrimento, tanta angústia, tanta luta interior?

Também não acho que o aborto se deva vulgarizar, que seja interpretado como um acto normal, ou pior ainda que se assuma como uma forma de contracepção. Credo, não!!!

O que gostaria é que tornando-se num acto legal, fossem criadas as condições para que as mulheres que se deparam com a dúvida de avançar ou não com uma gravidez, fossem acompanhadas, que desabafassem com um clínico, que falassem dos seus problemas com alguém que as pudesse ajudar.
Porque tenho quase a certeza que muitas mulheres que o fazem sem pensar muito, para poupar o sofrimento, se fossem devidamente acompanhadas por um psicólogo, talvez recuassem, ou ponderassem melhor as consequências de tal acto.

Vamos ser realistas! O aborto em Portugal é um acto ilegal, mas faz-se por todo o país!
E Deus sabe em que condições.
As que têm mais posses recorrem aos nossos vizinhos espanhóis e às suas clínicas, as que não podem dar-se a estes luxos recorrem à “desmanchadeira” mais próxima, sem condições de higiene, sem os devidos aparelhos cirúrgicos, sem as mínimas condições de segurança física, com o risco de contraírem toda a espécie de doenças e com o risco de o “desmancho” ficar mal feito e terem depois de recorrer aos hospitais, onde o Estado pagará as despesas inerentes ao trabalho mal feito da ilegal “desmanchadeira”.
Uma hipocrisia!


Sou a favor da descriminalização do aborto, sou a favor de que se criem condições para que as mulheres, que por qualquer infelicidade da sua vida optam por o fazer, tenham à sua disposição os meios para o fazer, ou para melhor ponderarem sobre esta decisão.
Para que não sofram sozinhas, para que não chorem escondidas. Para que tenham o direito de sofrer sem angústias, sem medo de estar a sofrer ilegalmente.
Só assim teremos igualdade e liberdade.

C