sexto sentido

terça-feira, janeiro 20, 2004

Ler, ler, ler

O post da minha colega bloguista M, em que fazia referência à Margarida Rebelo Pinto inspirou-me. Não é que eu aprecie a literatura (se é que assim se pode chamar), da autora em questão. Até porque os dois livros dela que li (Sei lá, e Não há Coincidências), foram até hoje, os únicos livros que consegui ler inteirinhos numa só noite. Digam que tal sucedeu porque eram estimulantes. Não, acho que os li numa só noite, porque as 100 páginas (??) que cada um possui, são de uma leitura tão ligeira que não é preciso sequer pensar.
É um óptimo relaxante. Aconselho-os a qualquer intelectual que queira dar folga aos neurónios cansados.
Não estou aqui a condenar este tipo de leitura, de forma alguma. Até porque a autora em questão não me parece que seja burra e descobriu nesta leve forma de escrever uma óptima fonte de rendimento. Honras lhe sejam feitas por esse facto!

E penso também que para um país como o nosso em que os hábitos de leitura estão abaixo de todas as estatísticas internacionais, pode até ser este tipo de leitura um óptimo começo. Uma forma de incentivar as pessoas a continuarem e aos poucos a ficarem mais exigentes com as suas escolhas literárias. O que interessa é que leiam, porque a leitura traz-nos sabedoria, traz-nos conhecimentos.
Há uns tempos atrás, numa crónica da Clara Ferreira Alves na revista Única a mesma fazia referência aos estrangeiros com que nos deparamos na praia e que raramente não estão acompanhados de um livro. Podem ser livros de romances de cordel, livros de grandes pensadores, mas este objecto é indissociável do estrangeiro e é-lhes tão indispensável como o fato de banho para mergulhar nas águas do Algarve (sendo que o último alguns quase que o dispensam).
E o bom do português? Para além do jornal A Bola ou do Correio de Manhã, poucas são as leituras alternativas.

Pergunta: a que se deve este falta de interesse pela literatura?

Talvez aos programas escolares demasiados pesados que se infligem aos adolescentes, em plena fase de efervescência hormonal.
Talvez à forma como os mesmos são leccionados.
Talvez à inexistência de hábitos de leitura no próprio seio familiar.
Talvez devido à enorme oferta de lazer alternativo.
Talvez porque nunca tiveram o prazer de descobrir um bom livro que os incentivasse.

Eu própria só mais tarde, na minha fase quase adulta é que descobri os prazeres da leitura.
Passei por três fases.
A primeira, antes de descobrir o sexo masculino, em que devorei tudo o que existia de literatura adolescente na biblioteca da zona: Astérix, Tintin, Lucky Luke, Mafalda, Nora, Patrícia, Os Cinco, Os Sete, etc., etc.
A segunda, coincidente com o 10º, 11º e 12º anos de escolaridade e por consequência com os primeiros namoros, em que lia apressadamente os resumos das grandes obras literárias antes do teste de Português. De que me ficaram nomes como Frei Luís de Sousa ou Eça de Queirós, mas pouco conteúdo sobre as suas obras.
A terceira fase é aquela em que já estou há alguns anos, em que me apetece ler tudo, todos os autores, todas as obras, em que acho que o tempo é curto demais para poder ler tudo o que queria. Entretanto voltei ao Eça, devorei tudo o que existe, reli Camões, Frei Luís de Sousa, Miguel Torga, Stendhall, Fitzgerald, Jorge Amado, etc.
Enfim, dei uma volta pelos clássicos, pelos grandes autores (e ainda me faltam tantos), li alguns romances actuais e não consigo parar. Se tivesse mais tempo acho que era uma leitora compulsiva, mas não tenho espaço na minha vida para o ser.

Adoro ler. Acho que não existe profissão mais abençoada do que a dos escritores.
A compra de livros deveria ser comparticipada pelo Ministério da Saúde, porque ler faz bem à alma, e deveria ser comparticipada pelo Ministério da Cultura, porque ler faz bem à criatividade e deveria ser comparticipada pelo Ministério da Educação, porque ler faz bem ao intelecto e deveria ser comparticipado pelo Ministério da Administração Interna, porque ler faz-nos ponderar, e, e, e.

Enfim, conselho de hoje: Leiam e disfrutem!

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