sexto sentido

sábado, janeiro 17, 2004

Emancipação feminina – quem é que a inventou?

Pois, para mal dos meus pecados, acho que fomos nós, as mulheres.
As revoltas femininas de meados do século XX, levaram-nos ao que somos hoje. Mulheres emancipadas, a ocupar lugares de destaque na sociedade, com responsabilidades acrescidas, com direito ao voto (parece incrível, nos dias que correm, pensarmos que em tempos tal acto nos foi impedido), com direitos tal como os homens.
Até aqui, tudo óptimo.
Mas e os deveres, será que são iguais?

Sinceramente, da experiência que tenho na minha envolvente, não me parece que haja uma igualdade de direitos e deveres no que concerne aos dois sexos.

Pois se a mulher ganhou o direito à participação activa na sociedade, os homens por sua vez ficaram na mesma situação que já tinham. Ou seja a mulher para além das aspirações profissionais, de carreira, que agora pode ter, terá que continuar a conviver com as tarefas domésticas, com a educação dos filhos, com mil e uma responsabilidades que a esperam sempre em casa depois de um dia de trabalho!

Mesmo reconhecendo que as novas gerações já pensam de outra forma, continua a persistir a ideia de que determinadas tarefas só competem à mulher.

Tomemos como exemplo o mudar uma fralda a um bebé. Os homens da geração do meu pai não o faziam, os da minha geração já o fazem, mas apenas se o conteúdo não for sólido, os da geração do meu filho, provavelmente já o farão sem condicionantes. Mas entretanto passaram-se 30, 40 anos para que este estigma da fralda fosse ultrapassado. Não será um exagero, 30 anos para ultrapassar este complexo?

Pois o homem é assim, um ser complexado, que acha que se fizer determinadas acções é considerado pelos outros como um fraco, um mariquinhas, um efeminado. Porém estes homens, em vez de se preocuparem com o que os outros homens pensam deveriam preocupar-se com o que as mulheres pensam. E aí ganham aos pontos!
O homem que participa nestas tarefas com a mulher, é logo cobiçado pelas amigas, é olhado como o homem ideal, o homem que todas quereriam ter.
Infelizmente, são poucos os que pensam assim.

E portanto, nós, mulheres emancipadas, ganhámos uma profissão, ganhámos uma carreira, ganhámos prestígio, ganhámos responsabilidades acrescidas na sociedade, ganhámos lugares de destaque, ganhámos o direito à participação, ganhámos o direito de sermos consideradas como iguais.

E depois de um dia de trabalho, depois de termos sido elogiadas pela nossa inteligência, pela nossa desenvoltura, pela nossa capacidade de resposta, pela nossa eficiência, voltamos a casa e recuamos no tempo. O marido senta-se no sofá, enquanto a mulher dá o banho aos filhos, prepara o jantar e faz mil e uma tarefas tal e qual a carochinha.

Não estou a generalizar, há homens que participam, especialmente se nós lhes chamarmos à atenção, e há também aqueles que preferem pagar a alguém para fazer essas tarefas, mas o complexo persiste e será precisa, talvez ainda mais uma geração, para que este seja ultrapassado. Especialmente, num país quadrado como o nosso. Mas isso já é outra história.

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