sexto sentido

domingo, janeiro 18, 2004

Memória Selectiva

Tenho de dar a mão à palmatória e confessar que, de facto, a Margarida Rebelo Pinto tem razão. Não lhe reconheço especial mérito em nada, mas nos seus livros ligeiros (de mulher tiazoca e trintona frustrada nos amores) sempre vai dizendo umas verdades.

A sua principal personagem apresenta a teoria do final das relações.

Ninguém sabe muito bem lidar com o final de uma relação. É um facto. Está provado! Parece-me natural... o que fica depois do final do romance? A tristeza, a mágoa, a dor, o vazio... O vazio que ninguém mais preenche nos tempos imediatos que se seguem.

Os homens, regra geral, tentam levar a vida para frente, parece que algo os empurra para viverem mais a noite, apanharem mais umas bebedeiras e conhecerem umas gajas novas só para se divertirem. Raros são os homens que terminam uma relação e pensam logo em meter-se noutra.

As mulheres parecem que abrem um episódio denso da sua vida para reavaliarem o seu passado conjunto, o porquê das coisas não terem dado certo, e se continuassem, será que não seria afinal aquele o homem das suas vidas? O grave é que a memória selectiva das mulheres é muito matreira nesta altura. Acreditem leitoras, que é verdade.

Parece que como uma varinha de condão apagam as discussões, o desamor, as incompatibilidades e tendem a querer falar com o seu ex pela milésima vez sobre os erros do passado. Tendem a fechar-se, a ouvir dez mil vezes a música dos dois, a passarem pelos locais que marcaram o antigo namoro e a recordarem a plena felicidade que os unia (??).

Que forma de reagir tão tipicamente feminina...

Porém, e tenho de o sublinhar, talvez no final do episódio (mais ou menos longo) e apesar do masoquismo inerente ao mesmo, as mulheres saiem mais equilibradas, com mais energia e prontas para um eventual novo relacionamento do que os homens.

Porque no meio de todo o masoquismo e das lágrimas que lhe cairam pela face, elas de facto conseguiram analisar, compreender e aceitar o passado... ou seja, fazem um luto que apesar de ser vivido com muitas dúvidas, vazios e lágrimas, serviu para fazerem uma nova vida.

Mudam o penteado, renovam o guarda roupa, dão o grito de ipiranga e lá vão elas. Muitas vezes mudam de emprego, de casa, de carro, de objectivos.

O final de uma relação provoca muitas vezes uma mudança profunda na vida da mulher. Para o que der e vier...

Talvez porque o fecho do romance esconda um desejo muito maior e muito mais válido: a mundança profunda de uma vida que já as deixou de satisfazer e com a qual não se identificam nem realizam... e o fim do romance é, ao fim de contas, a esperança de uma vida mais plena, mais feliz e mais realizada.

M