sexto sentido

quinta-feira, abril 15, 2004

A caminho do final do dilema

Ontem ele apareceu cá. Já não o via a algum tempo, embora de vez em quando a nossa voz se trocasse em breves telefonemas, nem sempre tão breves assim.

Mas ele ontem veio até mim, sei que apenas subiu para me ver, para estar um pouco comigo. Estava frágil e carente... talvez por estar um pouco febrir.

Mimei-o muito, com imenso carinho. Falámos sobre o final da relação. Ele confidenciou-me que ainda tinha muitas saudades de mim, sobretudo antes de se deitar, que estava acostumado a receber a minha chamada diária.

Falámos sobre ambas a nossas relações actuais, ele da dele, aparentemente mais liberal, eu da minha. Ele propos-me alguns encontros imediatos, escondidos dos outros, escondidos do mundo.

Eu alertei-o de que lhe dei a hipótese, talvez a derradeira, das coisas voltarem em Janeiro, com algumas mudanças de ambas as partes e que ele recusou airosamente.

Ele disse-me que a questão já não estava numa volta, numa relação, mas nuns momentos que nos poderiamos proporcionar. Disse-lhe que tinha imenso carinho por ele, e ele respondeu-me que não era só isso que sentia por mim...

Mas o tempo passa e a sua inactividade, a sua falta de garra em lutar por mim, por nós, pela nossa relação, que talvez podesse ainda ser retomada com sucesso, seduz-me cada vez menos... em porporção directa em que a minha actual relação me satisfaz e me trás aquilo que quero. Também o sentimento aumenta e o sentimento que ficou lá atrás vai-se desvanecendo.

A relação emotiva versus relação racional vai-se diluindo... talvez porque a emotiva esteja cada vez menos emotiva e a racional esteja também a ficar emotiva.

Talvez porque o amor também traga consigo garra, luta, força... que de facto, racionalmente tenha compreendido que não existia na relação anterior e que vejo que existe na actual relação...

E sentir-me assim amada, motiva-me. Saber que mesmo as coisas menos exactas podem ser corrigidas, que existe vontade de ambas as partes das coisas resultarem e num esforço natural de adaptação, as coisas encaixarem cada vez melhor...

Sinto-me no final do dilema que me tem atormentado tanto nos últimos tempos. Por vezes o tempo mostra-nos os caminhos de uma forma tão natural, tão simples...

M



QUASE

Ainda pior que a convicção do não,
é a incerteza do talvez,
é a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda,
que me entristece,
que me mata trazendo tudo
que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga,
quem quase passou ainda estuda,
quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades
que escaparam pelos dedos,
nas chances que se perdem por medo,
nas ideias que nunca sairão do papel
por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes,
o que nos leva a escolher uma vida morna.
A resposta eu sei de cor,
está estampada na distância
e na frieza dos sorrisos,
na frouxidão dos abraços,
na indiferença dos "bom dia",
quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem
até para ser feliz.
A paixão queima,
o amor enlouquece,
o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos
para decidir entre a alegria e a dor.
Mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo,
o mar não teria ondas,
os dias seriam nublados
e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina,
não inspira,
não aflige nem acalma,
apenas amplia o vazio
que cada um traz dentro de si.
Preferir a derrota prévia
à dúvida da vitória
é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros há perdão,
para os fracassos, chance,
para os amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio
ou economizar alma.
Um romance cujo fim
é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque,
que a rotina acomode,
que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em si.
Gaste mais horas realizando que sonhando...
Fazendo que planeando...
Vivendo que esperando...
Porque,
embora quem quase morre esteja vivo,
quem quase vive já morreu.

(autor desconhecido)


Para reflectir...

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