sexto sentido

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Despertar

Já há bastante tempo que não escrevo nada.
Não sei, tenho andado um pouco alheada do mundo.
Temos fases assim na vida. Especialmente, quando a vida decide pregar-nos grandes estalos, que foi o que me aconteceu há pouco tempo.
Levei um estalo, fiquei de banda, e só agora começo a recuperar.
Começo agora a ver outra vez a vida a cores, ainda só as primárias, as outras hão-de vir.
Até agora via tudo negro, tudo a preto e branco, como um daqueles filmes tristes de Godart, ou o Guernica de Picasso, caos e preto e branco.

Temos na nossa natureza, o defeito de achar que quando algo de mal acontece é, simplesmente, o fim do mundo, o fim da vida, vamo-nos abaixo moralmente, intelectualmente, achamos que as preces não foram ouvidas, que Deus não existe, que o que aconteceu não tinha que acontecer, que o destino nos pregou uma partida, etc, etc, etc.
Temos o defeito de só olhar para o nosso umbigo. De nos auto comiserarmos.

Mas depois daquela fase de choque, começamos a olhar à nossa volta, a ver o sofrimento dos outros, muito pior do que o nosso, a ver os problemas dos outros, muito maiores que os nossos, a ver que ainda morrem pessoas com fome em pleno século XXI, que existem países onde a pirâmide das necessidades de Maslow só tem um patamar, o das necessidades básicas, e que mesmo estas dificilmente são satisfeitas.

E pensamos: - afinal não é assim tão grave, é ultrapassável, tem solução.

Cheguei a esta fase, felizmente. Ultrapassei a dor, a tristeza, estou de ressaca ainda, mas brevemente estarei apta para a vida, para o combate, para a conquista.
E são estas experiências que nos fazem crescer, que nos fazem acordar para a realidade, para os verdadeiros problemas.

E como boa portuguesa que sou, teria sempre de reagir assim.
Foi mau, mas podia ter sido pior!

C