sexto sentido

terça-feira, abril 20, 2004

Os comprimidinhos milagrosos

Muitas vezes dou comigo a pedir conselhos espirituais a completos desconhecidos.
Percorro os blogues alheios e naqueles em que o mote é o amor, a vida, deixo o meu comment na expectativa de que o autor me responda.
São pessoas desconhecidas, das quais a única informação que tenho são precisamente os seus posts com os quais, por vezes, me identifico.
E muitas dessas vezes faço perguntas, peço conselhos.

É uma verdadeira estupidez, dirão.
Mas não será melhor pedir conselhos a pessoas desconhecidas do que àqueles que nos conhecem de cor, conhecem a nossa vida e que irão responder, precisamente, condicionados pelas nossas próprias condicionantes?

Quando vamos ao médico, porque temos uma gripe, ele receita-nos apenas os medicamentos indicados para a dita doença, sem nos perguntar se andámos à chuva, se apanhámos correntes de ar.

Quando consultamos um psicólogo (o que nunca fiz, mas talvez precisasse), começamos sempre por descrever a nossa vida, as nossas vivências, as pessoas com quem convivemos. E depois então abordamos o problema que ali nos levou.
Mas não será isto fazer batota? O que queremos é que o analista nos diga qual o remédio para o problema, sem fazer contornos pela nossa vida.

Ora, imaginemos que somos a tal tábua rasa que um filósofo descreveu, e que nela inscrevemos apenas os sentimentos que nos assombram. Temos uma equação simples, para quê complicá-la? Basta resolvê-la, talhá-la da melhor forma, por via a que no final tenhamos o caminho a seguir.

É claro, que isto de problemas sentimentais, psicológicos, é muito mais complicado do que uma gripe, mas era tão bom que assim fosse.

Médico:
-Ora então, a menina está farta do seu trabalho? Olhe, tome estes comprimidinhos vermelhos que vai ver que daqui por uma semana já dá graças por ter o emprego que tem.

Médico:
-Está farta da vida? Tome estas vitaminas concentradas, juntamente com estas ampolas de boa disposição e amanhã já se sente outra.

Utopias! Mas com os avanços da ciência pode ser que tal aconteça.

C