sexto sentido

segunda-feira, janeiro 12, 2004

“Eu e os meus comigos”

I watch the western sky
The sun is sinking
The geese are flying south
It sets me thinking

I did not miss that much
I did not suffer
What did not kill me
Just made me tougher

Ghost Story
Sting


“Eu e os meus comigos” vivemos em intensas brigas, em constantes arrufos e confrontos. Corremos atrás de objectivos que se atropelam, sonhamos cenas em que nem todos entram.

Mas apesar disso, ou talvez por isso, a minha rotina preenche-me, mesmo sentindo que me falta algo mais sem saber exactamente o quê. Talvez sejam novos projectos, talvez seja mudar de ares. Sinto muitas vezes falta de novas perspectivas.

Tenho mesmo vontade de fazer uma grande viagem daquelas em que se repensamos a vida, daquelas em que o exterior nos proporciona uma enorme descoberta de nós mesmos e do que vai aqui dentro.

Ontem li um e-mail que me fez reflectir sobre a morte lenta que levamos quando não arriscamos, quando não vimos novos caminhos, quando não nos aventuramos a uma fuga de rotina constante, quando não nos levamos por sentimentos ou nos regermos somente pela razão.

Eu sempre me regi pela razão. Acho que nem nunca vi as coisas de outra forma. Oiço por vezes alguns amigos, não muito próximos, a alertarem-me da minha frieza, por detrás da aparente simpatia.

E depois, dou por mim a caracterizar os meus amigos e conhecidos na tentativa que façam o mesmo de mim, na busca de auto descobrir-me. Procuro nos outros uma auto caracterização, acreditas??

Estipulei um caminho tão coerente, tão delineado, tão certo e comecei a percorre-lo sem olhar para trás. E agora, quando penso em mim, nos meus desejos, medos e sonhos, apercebo-me que apenas sei o caminho que percorro sem perceber bem que a personagem que o percorre, aliás, sem a conhecer.

Ando então numa procura do eu, talvez nem sempre da melhor maneira... ando à procura de todos os “meus comigos” com o sentimento, e descubro o quanto que é difícil.

Consigo determinar o núcleo de índole e valores que me rege, consigo apontar os pontos fortes e os pontos fracos. Consigo até determinar inclusive o que neste percurso me fez mudar em certos aspectos. Mas na trilogia de “Quem sou? De onde vim? Para onde vou?” fico sem resposta logo à primeira pergunta.

O meu processo de estado de dúvida, por mais estranho que pareça, foi intensificado ao ler um livro em que uma personagem feminina, com uma filha adolescente toxicodependente, ao ser questionada sobre quem era apenas conseguiu responder ser ex-mulher de alguém e mãe. As suas referências enquanto indivíduo baseavam-se no seu sentido para os outros. Por algum motivo, que nem ela sabia determinar, começou intensamente a viver para os outros, embora nem sempre da melhor forma, e acabou esquecendo-se dela mesma, de quem era.

Não sei quem sou!! Não é horrível? Não é ridículo?

Questiono-me se o problema da minha dúvida existencial baseia-se no conceito não simplista como vejo algumas coisas na vida. E apercebo-me, agora, que nenhum filósofo até hoje foi um ser sem dúvidas. Nenhum filósofo foi completamente feliz. E dentro desta lógica, quem é realmente feliz não pensa. Mas este não é um pensamento inédito. É apenas a primeira vez que EU reflicto sobre tal.

M

Dissonâncias

No outro dia apercebi-me, com grande tristeza, que a pessoa com quem decidi fazer a minha vida, vive num planeta diferente do meu. Não é Marte ou Júpiter. Geograficamente falando. vivemos os dois no mesmo planeta Terra, Planeta Azul, mas em termos psicológicos, e sem que eu me tivesse apercebido, ao longo dos anos, fomos correndo caminhos diferentes.
Não sei exactamente em que altura é que surgiu esta bifurcação que nos fez optar por caminhos diferentes, mas o certo é que ultimamente me tenho apercebido que cada vez estamos mais longe.
E agora pergunto: é possível duas pessoas viverem uma vida juntas seguindo por caminhos diferentes?
É possível que o amor, que existe, nos consiga unir, consiga que existam sempre pontes para nos encontrarmos?
É difícil. Até porque o amor ao longo dos anos vai-se transformando. A paixão que nos cegava no início, que não nos fazia ver os defeitos, que nos fazia fazer sacrifícios (muitas vezes sacrificando os nossos ideais), passa ao fim de um ano, no máximo dois. E a relação transforma-se. Passa a haver mais compreensão de parte a parte, mais companheirismo, mais habituação, também. Surgem laços ainda mais fortes que nos unem, como os filhos.
E eu acredito que são os filhos que conseguem manter muitas relações. Porque quando temos filhos deixamos de ser egoístas e de olhar só para o nosso umbigo. Os filhos são o filtro das nossas atitudes, tal como o filtro do café que não deixa passar as borras.
Nós que passamos a vida a tentar educa-los, não nos apercebemos que são eles, também, que nos ajudam a tomar certas opções.
(To be continued)
C